http://leitor.expresso.pt/#library/expresso/semanario2309/expresso-2309/emdestaque/may-enfrenta-trump-como-fica-a-relacao-especial- Jornal Expresso SEMANÁRIO#2309, 28 de Janeiro de 2017 RELAÇÕES TRANSATLÂNTICAS DIPLOMACIA Trump teve com a PM britânica o seu primeiro encontro com um líder estrangeiro May enfrenta Trump Como fica a relaỗóo especial? Texto Ricardo Lourenỗo Correspondente nos EUA, Cátia Bruno e Pedro Cordeiro Depois de Thatcher-Reagan e Blair-Bush, chega a hora duo May-Trump FOTO Olivier Douliery/EPA A primeira-ministra britânica pressionou Trump no sentido apoio NATO e da manutenỗóo das sanỗừes Rỳssia atộ que os acordos de Minsk sobre a paz no Leste da Ucrânia ͳ sejam cumpridos Aconteceu na conferência de imprensa conjunta ontem, ao fim dia, em Washington, após a reunião entre os dois estadistas O clima foi de sorrisos e de promessas de apoio mútuo mas May deixou claras as suas posiỗừes, amarrando o Presidente dos EUA declaraỗóo que apoiava 100% a NATO Numa declaraỗóo que nóo foi comentada por May, Trump tinha dito acreditar na eficácia waterboarding e outras técnicas de interrogatório habitualmente associadas tortura, mas ressalvou que nessa matéria confiava no secretário da Defesa, James Mattis, muito embora este tivesse uma posiỗóo diferente da sua Trump elogiou o ‘Brexit’ e May voltou a insistir que “um acordo bilateral de livre comércio é interesse de ambos os países” Horas antes, Theresa May tinha discursado no retiro anual dos congressistas republicanos, tendo sido a primeira vez que tal honra é concedida a um chefe de Governo estrangeiro “Teremos a oportunidade de liderar, juntos, outra vez” disse May, leia-se, como nas duas Guerras Mundiais e na Guerra Fria O reavivar da special relationship (relaỗóo especial) ộ aplaudido pelo professor de geopolítica Armando Marques Guedes, da Universidade Nova de Lisboa “Ao contrário de Tony Blair, que tinha uma atitude subserviente com George W Bush, May assume-se como uma espécie de mentora”, diz o também docente Instituto Universitário Militar, que considerou o discurso “magistral” “Matou dois coelhos de uma cajadada, afirma ao Expresso Apoiou Trump mas agradou s faỗừes republicanas — e são quase todas — que se opõem ao programa Presidente: conservadores, neocons, neoliberais, tea partiers, desalinhados.” Marques Guedes crê que também o Partido Democrata americano terá ficado feliz, bem como os militares, serviỗos de informaỗừes e grandes empresários, ao contrário dos trabalhistas britânicos de Jeremy Corbyn, um líder nada atlantista Bofetada de luva branca “May fez isto de forma tão indireta que não sei se o próprio Trump terá compreendido a bofetada de luva branca”, diz Marques Guedes Alguns ministros de Trump tinham expressado preocupaỗừes semelhantes nas audiỗừes no Congresso O docente portuguờs realỗa os aplausos “de pé” a May “Agarrou o touro pelos cornos, numa pega de caras que excedeu os quadros normais de soft speak.” Chris Collins, congressista na Câmara Baixa pelo estado de Nova Iorque, revelou ao Expresso que a reaỗóo da plateia foi calorosa a espaỗos Pensa que May reforỗou a relaỗóo especial entre os dois paớses, estreitando laỗos numa altura em que ambos iniciam um novo caminho” Nem todos gostaram que ouviram, porém Steve Russell, congressista conservador estado Oklahoma, diz-se cộtico em relaỗóo ao papel dos EUA no mundo “Ouvir uma líder estrangeira a dizer que o tempo intervencionismo americano acabou, como a capacidade de influenciar outras naỗừes, deixa-me desconfortỏvel Sabemos o que ộ melhor para o nosso país, muito obrigado”, explicou ao Expresso este antigo militar, que comandou forỗas americanas no Iraque durante a captura ditador Saddam Hussein A seu ver, os “parceiros europeus tờm de comeỗar a pagar o preỗo certo pela defesa dos seus interesses É uma ideia que Trump tem repetido, numa linha de desvalorizaỗóo das instõncias multilaterais que inquieta May Na senda de Reagan e Thatcher Marques Guedes reteve as menỗừes insistentes da britõnica NATO, UE e s Naỗừes Unidas, na semana em que Trump disse querer reduzir em 20% a contribuiỗóo dos EUA para a ONU (um terỗo de cujas verbas vờm de Washington) May enalteceu a cooperaỗóo militar anglo-americana, nomeadamente contra o terrorismo radical islâmico e a ressurgência da Rússia: “Não devemos pôr em risco as liberdades que o Presidente Reagan e [a primeira-ministra] Thatcher trouxeram para a Europa de Leste, aceitando a ideia Presidente Putin de que essa região faz parte da esfera de influência russa. Carlos Gaspar, Instituto Portuguờs de Relaỗừes Internacionais, lembra que May “considera a NATO um ͵ interesse vital de seguranỗa para o Reino Unido e nóo partilha a visóo de Trump sobre a natureza benigna da expansão russa e os mộritos de uma convergờncia estratộgica com Putin A Alianỗa Atlântica recebe de Washington e Londres os maiores contributos financeiros e militares entre os 28 membros Gaspar teme que “a divergência entre Trump e May sobre a NATO e a Rússia seja mais importante que a sua convergência sobre o ‘Brexit’” Theresa May procura outro lado atlântico novos horizontes para o reino unido após a sda da união europeia O certo é que a primeira-ministra também procurou, alémAtlântico, novos horizontes na hora de deixar a Europa dos (doravante) 27 May precisa de consolidar a alianỗa estratộgica com os EUA para robustecer a sua posiỗóo nas negociaỗừes com a UE e demonstrar que há vida para ‘Brexit’”, afirma Gaspar A governante quer mostrar-se “preparada para negociar um acordo bilateral de livre comércio com os EUA”, prossegue “Substituir os países da Europa pelos da Commonwealth é pouco, mas se lhes somar os EUA, já estamos a falar a sộrio, reforỗa Marques Guedes A vontade de liderar, com Trump, os english speaking peoples deu azo a uma defesa por May Estado-naỗóo que ộ algo incoerente com recentes discursos seus O prúprio Reino Unido tem quatro naỗừes (Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda Norte) e os EUA, sendo uma pỏtria, nóo sóo um Estado-naỗóo mas um melting pot Achei estranho, mas pode ser uma manobra tática inteligente para conquistar conservadores como Steven Bannon, estratego político da Casa Branca”, admite Trump é, recorda, cortejado e vice-versa por nacionalistas como Marine Le Pen ou Nigel Farage Mais pessimista quanto ao futuro das relaỗừes transatlõnticas ộ Joseph Nye, professor de Ciờncia Polớtica em Harvard e membro das Administraỗừes Carter e Clinton Afirma ao Expresso: “May tem razão Os EUA serão menos intervencionistas, mas isso aplica-se também Europa Suspeito que os dias apoio americano ao projeto europeu Ͷ chegaram ao fim.” Bannon parodiou recentemente a “desunião europeia”, enquanto Trump dizia desejar mais ‘Brexits’ Já May, embora lhe caiba conduzir o país para fora da UE, defendeu a integridade que resta desta ͷ ... britânicos de Jeremy Corbyn, um líder nada atlantista Bofetada de luva branca ? ?May fez isto de forma tão indireta que não sei se o próprio Trump terá compreendido a bofetada de luva branca”, diz ʹ Marques. .. têm de comeỗar a pagar o preỗo certo pela defesa dos seus interesses É uma ideia que Trump tem repetido, numa linha de desvalorizaỗóo das instõncias multilaterais que inquieta May Na senda de. .. parodiou recentemente a “desunião europeia”, enquanto Trump dizia desejar mais ‘Brexits’ Já May, embora lhe caiba conduzir o país para fora da UE, defendeu a integridade que resta desta ͷ